Em alguns
lugares, vivemos hoje um cenário de oscilações e agravamento
emocional; agravamento existencial. Parecem ser muitos esses
lugares. Os procedimentos de urgência em Filosofia Clínica têm se
tornado uma ferramenta importante, entre tantas ferramentas, de acolhimento imediato. Às vezes,
um paliativo, uma mediação, mas também uma abertura epistemológica
para algo mais profundo. Situações como crises de ansiedade intensa
e desorganizações existenciais pedem, por vezes, respostas rápidas,
humanizadas e eficazes (tanto quanto possível for).
O
atendimento emergencial pode, eventualmente, estabilizar um quadro
clínico, mas também representa um ponto de escuta e cuidado em um
momento crítico. Ele pode ser o primeiro passo para que a pessoa
receba o tratamento adequado, evitando agravamentos e promovendo um
ajuste essencial — seja este familiar, comunitário ou institucional.
Consideremos também que a urgência — a crise — é, às vezes, uma
resposta adequada (não raro recomendada) a questões graves, para as
quais a urgência pode se constituir em uma promissora solução.
Contudo, os
nossos
colegas da área da saúde mental (lembre que a Filosofia Clínica não
é da área da saúde, mas pode colaborar com ela) trazem dados que
mostram um momento crítico, especialmente no que diz respeito às
situações de urgência. De acordo com o relatório The Mental State of
the World in 2023, o Brasil ocupa a terceira pior posição entre 64
nações avaliadas, ficando 11 pontos abaixo da média global.
Dados
recentes mostram que 26,8% da população brasileira — cerca de 56
milhões de pessoas — convivem com algum grau de transtorno de
ansiedade. Só entre janeiro e outubro de 2024, o SUS registrou mais
de 671 mil atendimentos ambulatoriais por ansiedade, um aumento de
14,3% em relação ao ano anterior.
Uma das
respostas da área da saúde a este cenário é que houve avanços na rede de atendimento: o
Brasil conta hoje com mais de 3 mil Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), e o Novo PAC prevê a criação de mais 150 unidades até 2026.
No entanto, especialistas alertam que o crescimento da rede precisa
vir acompanhado de ações preventivas, voltadas às causas estruturais
da crise — como o uso excessivo de telas, o isolamento social e a
desconexão emocional.
Como esses
dados trazidos por nossos colegas da área da saúde mental conversam
e são acolhidos em Filosofia Clínica? O que tem ela a colaborar?
A Filosofia
Clínica questionará os dados? Perguntará pelos critérios, pela forma
como alguém é considerado ansioso? A Filosofia Clínica pode indagar
sobre o caráter, a intenção, o conhecimento de quem afirma que algo
é urgente e os tratamentos que indica para isso? Questionará a
relevância da ansiedade, seu lugar nos parâmetros que medem
normalidades e patologias? O que ela trará como proposta àquele que
sofre? Quais são os procedimentos da Filosofia Clínica diante dessas
questões?
Esse é um
dos temas centrais de nosso estudo do dia 12 de julho.
Um abraço,
Lúcio Packter
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